domingo, 19 de junho de 2011

Adeus Alavantú, Adeus Anarriê!

O Nordeste sempre foi a região do Brasil onde se mais comemora a trilogia festiva de Santo Antônio, São João e São Pedro. Mesmo sabendo do valor religioso dessas datas, não dá para negar que a festa é profana. Talvez pela tradição da música, da forma de dançar, das brincadeiras típicas da região e da simbologia da fartura que ela representa, transforme o povo numa só alegria. Campina Grande continua fazendo o “Maior São João do Mundo”, e por causa disso, a Paraíba é sempre destaque nacional. Só temos que festejar! No entanto, muita coisa precisa ser revista, para que a tradição não seja atropelada descaracterizando o que ainda resta de cultura popular desse importante festejo.
   Na minha adolescência, conheci o São João de Santa Luzia e o São Pedro de Itaporanga, consideradas as melhores festas juninas da época. Além da alegria e da comida típica, tínhamos a harmonia da celebração das tradições que hoje pouco se vê na maioria das cidades interioranas. Bananeiras, por exemplo, ainda resiste, mas não tem o apoio merecido de grandes patrocinadores. Na verdade, a transformação cultural das festas juninas tem se dado a cada ano pela interferência do “novo” ou pela falta de incentivo e vontade política de resgatar ou manter nossos costumes.
   Quadrilhas juninas, por exemplo, foram transformadas em verdadeiros espetáculos que lembram mais o carnaval. As roupas são confeccionadas ao estilo gaúcho e a dança substituída por passos estilizados que mais parecem coreografias de academias. Ganhou-se no luxo, mas perdeu-se na genuinidade! Sem tirar a beleza da plasticidade que elas representam dificilmente você vê quadrilhas juninas com meninas usando o tradicional vestido de chita e rapazes com calças esfarrapadas e chapéu de palha. O “Alavantú, Anarriê” é outra tradição que foi praticamente extinta no roteiro delas, e hoje é quase impossível encontrar um “marcador de quadrilhas” que conheça seus passos e evoluções. Enquanto brincadeiras e simpatias estão desaparecendo, o famoso “pau de sebo”, as “puladas na fogueira”, “a corrida do ovo na colher”, o “correio elegante”, o “casamento matuto”, o “quebra panela”, a “corrida de saco”, o “jogo das argolas”, a “pescaria” e tantas outras expressões estão cada vez mais raras. Até mesmo a fogueira junina, característica marcante dessas festas, está fadada a morrer. Isso mesmo! Já teve até vereador fazendo projeto para extingui-la do cenário junino por contribuir com a destruição da camada de ozônio. Com todo respeito à natureza, a meu ver, acho um exagero já que se trata de um evento sazonal. Caso isso realmente aconteça onde iremos assar o milho e a batata doce? Já pensaram nisso?
   Assim como o tradicional forró “pé de serra” vem perdendo espaço para o “forró de plástico” ou “forró estilizado”, não dá para negar a influência da mídia e a aceitação do povo em torno desse novo estilo. Quando um conceito cultural entra no inconsciente coletivo, dificilmente você muda isso, e o que é chamado de “novo” passa a fazer parte da tradição incorporando-se à cultura. Temos que respeitar essa realidade.
   Independente do que virá no futuro, o São João nunca deixará de ser a expressão maior do povo nordestino, porém as modificações visíveis da nossa cultura certamente vão alterar a essência dessa manifestação e o que hoje se denomina de “estilizado” amanhã certamente será lembrado como folclore ou para-folclore. Ao que me parece, só nos resta dizer: Adeus Alavantú, adeus Anarriê! Podem escrever!
   Texto publicado originalmente em 19.01.2011
  

A cidade dormitório


  Afora o trânsito caótico de João Pessoa, o som das buzinas desrespeitosas e o barulho provocado pelos infernizantes carros de som fazendo propagandas de lojas ou anunciando a próxima reunião do orçamento democrático, João Pessoa poderá sim entrar no rol das cidades fantasmas. É que está cada vez mais difícil conviver e trabalhar numa cidade onde não se tem respeito a empresários, fornecedores e artistas que dependem da noite para sobreviverem.
   Esse disciplinamento que começou na gestão municipal passada, de certa forma criou uma situação confortável para o cidadão que tem todo o direito de, após um dia de trabalho, descansar no seu doce lar usufruindo da tranquilidade e da paz familiar. Até aí, tudo bem. Mas como fica os jovens, que querem sair para a noite, escutar uma boa música e se divertir na companhia de amigos ou familiares até quando bem quiser sem nenhuma restrição horária e com segurança?
   Quando estive vereador, me acusaram de querer implantar a Lei Seca e fechar os bares da cidade como forma de disciplinar a violência. No entanto, esse projeto nunca existiu! Desafio qualquer pessoa a pesquisar nos arquivos da Câmara e publicá-lo. O que na verdade existiu é que fui procurado por cinco proprietários de bares e restaurantes, que, tendo seus estabelecimentos assaltados, queriam que eu fizesse um projeto de Lei garantindo aos restaurantes terem segurança obrigatória paga em parceria com o poder público. Aqueles que não estivessem dentro dos padrões estabelecidos, aí sim, fechariam suas portas mais cedo. Conversando, na época, com o procurador do município, fui informado ser impossível implantar um projeto dessa natureza por ser inconstitucional e gerar despesas públicas. Além disso, segurança pública é obrigação dos poderes executivos. A discussão não foi adiante e acabei sendo julgado erroneamente pela mídia. Ora, como músico e defensor assíduo da classe, jamais colocaria um projeto que iria restringir exatamente o nosso mercado de trabalho. O que fiz na verdade foi um projeto de Lei disciplinando o uso de som em porta malas de veículos particulares em determinados locais, verdadeiros produtores da poluição sonora, e que infelizmente até hoje não foi posto em prática pelo Poder Municipal. Essa Lei sim, existe, foi sancionada e nunca foi implantada. Percebo que existe uma confusão na cabeça das pessoas em relação a essa questão, mas nada melhor do que o tempo para esclarecer e colocar “o ponto nos is”.
   Enquanto a cidade cresce turisticamente no boca a boca de quem a conhece, equipamentos de lazer são ameaçados e perseguidos e o que vemos hoje são bares e restaurantes sendo fechados, seja pela falta de segurança ou pelo exagero causado pelos órgãos de fiscalização, leia-se SEMAM, VIGILÂNCIA SANITÁRIA, SUDEMA, que muitas vezes não corresponde à justa causa dos que são fiscalizados. Já vi, por exemplo, em lugares que praticamente não existem moradores, uma festa, um show ou um evento ser interrompido antes mesmo da meia noite por causa de um único morador incomodado. O Centro Histórico é uma das áreas em que ocorre esse tipo de situação.
   O fechamento das barracas do Bessa, a restrição de música ao vivo na maioria dos bares da cidade e a possível interdição do complexo do Jacaré é um retrocesso imperdoável para quem quer entrar no rol dos destinos turísticos do Brasil. É necessário que os governos, tanto municipal como estadual, façam uma interferência e abra o diálogo com a União e o Ministério Público Federal no sentido de encontrar uma solução pacífica para o impasse. Cadê o “Projeto Orla” que até hoje não saiu do papel? Onde está a sensibilidade dos governantes que até agora não fizeram nada além de perseguir ou demolir? E como ficam os empresários e os produtores culturais que muitas vezes investem, se comprometem e acabam levando um prejuízo sem nem ter chance de se defender? Para onde vão essas famílias que dependem desses equipamentos para sobreviverem? Muitas vezes, esses empresários, mesmo estando devidamente licenciados são perseguidos com autoritarismo e incompreensão, quando não são multados ou no mínimo ameaçados de fecharem seus estabelecimentos. Da mesma forma músicos são reprimidos e enxotados de palcos e eventos, enquanto garçons, cozinheiros, vigilantes e fornecedores se vêem desempregados da noite para o dia, e o que é pior, sem nenhum aviso prévio.
   Como se não bastasse a falta de segurança para garantir a diversão tranquila do turista ou de qualquer cidadão, os empresários estão cada vez mais inseguros nos seus investimentos o que pode causar, em curto prazo, uma debandada destes equipamentos para outras cidades ou estados. Pelo menos é o que tenho ouvido da maioria deles. Caso isso aconteça, decididamente, seremos transformados numa cidade dormitório. Infelizmente!
Texto originalmente publicado no site clickpb.com.br em 07.06.2011

Você Votou!

 Estive viajando pelo interior da Paraíba e fui surpreendido por cidadãos comuns, de simples a formadores de opinião, arrependidos e ao mesmo tempo indignados com a postura do atual Governo estadual em relação a vários segmentos. Uns chegaram a dizer que "na Paraíba foi implantada a ditadura". Sinceramente, ainda acho cedo para avaliar, mas não posso me furtar de opinar sobre o que estas pessoas pensam e comentam. 
   Por mais que se diga que o povo é soberano não tem como se negar que quando os governantes querem forjar a unanimidade em torno de uma gestão, dificilmente a soberania do povo é exercida. Ora, você votou! Nesse caso, se torna bastante claro o quanto os eleitores ainda não aprenderam a assumir a responsabilidade do voto! A sucessão de decepções parece sempre levar a uma aposta naqueles que se apresentam com a promessa de um novo cenário político, econômico e social. E, diante desta perspectiva, o eleitor se deixa levar sem maiores reflexões.
   Já vimos no Brasil vários políticos ditadores, a maioria proveniente da direita ou da extrema direita, que foram ovacionados pelo povo e, depois de serem rejeitados, voltou nos braços deste mesmo povo que um dia os elegeu. Entretanto, mesmo estando distante dos regimes totalitários, percebemos fortes resquícios de prepotência com posturas ditatoriais em governos que se dizem embasados no Socialismo.
  O exercício do Poder nesses casos se mistura a personalidade do governante e muitas vezes fazem perder a noção do limite. Embora alguns eleitores e militantes inconscientes cheguem a admirar aquele que governa com "pulso forte", muitos passam a seguir o seu líder sem sequer admitir questionamentos.
  No entanto, "pulso forte" não é domar liderados uniformizando as suas idéias e os obrigando a rezar na cartilha de seus pensamentos e de suas vontades. "Pulso forte" não é humilhar, driblar, sufocar, planejar traições, mandar calar, fechando as portas para o diálogo e a convivência.
   Não cabe a mim nem a quem quer que seja julgar essas pessoas, até porque, "julgar exige que você se considere superior a quem você julga", mas não tenho dúvidas da incerteza política que ora vive a nossa querida Paraíba. Em outras palavras, o que senti nesses comentários é que foi plantado um clima nebuloso de insegurança e medo que só tende a aumentar caso o governo não diga a que veio.
  Será que o povo paraibano está verdadeiramente no comando do seu destino? Ou será que assistimos a mais uma ilusão?

Texto publicado originalmente no site click.pb.com.br em 22.11.2011