domingo, 7 de agosto de 2011

Decadencia de uma Festa

   Uma das mais tradicionais festas de nossa cidade está com os dias contados. É o que prevejo caso não mude o conceito na sua estrutura e na sua produção. Quem conheceu a Festa das Neves, sabe do que estou falando.
   Criada desde o século XIX para se comemorar o aniversário da cidade e de sua padroeira, infelizmente a maior referência em manifestação de rua dos últimos 50 anos tem sido gradativamente prejudicada pela falta do interesse público e o descaso de várias e sucessivas gestões municipais que não estão preocupadas em dar continuidade as nossas tradições e nem tão pouco na sua preservação. Estive lá e comprovei essa triste realidade.
   Antigamente a festa tinha um ar nostálgico e de puro comprometimento com a nossa cultura. Existia aconchego e uma essência peculiar que atraía a família paraibana a uma verdadeira celebração do profano com o religioso. E o que vemos hoje? Uma festa completamente fragmentada, dispersa, suja e desrespeitosa com a população. Parece-me que realizam o evento simplesmente para cumprir um calendário, como se fosse uma mera obrigação do poder público, mas sem nenhum compromisso em qualificá-la. Afora os shows do Ponto de Cem Réis, nada acontece!
   É verdade que a cidade cresceu tomando outras proporções, mas retirar o evento de perto da Catedral foi no mínimo contraditório. Dividir a festa em várias ruas e praças só fez também contribuir para que o evento se dispersasse. Acabou-se o aconchego. Perdeu-se na unidade. Na verdade a Festa das Neves servia como um grande encontro anual pontuado pela celebração da cidade e de seus munícipes. Existia calor humano e energia de sobra nas várias barracas de jogos populares em sua volta.  Os pavilhões armados na Rua General Osório concorriam entre si, numa espontânea e virtuosa alegria que dava prazer participar e compartilhar de todas elas. Havia “correio sentimental”, distribuição de brindes, leilão de gastronomia e bebidas, brincadeiras, bingos, grupos musicais variados, muita dança e alegria o que fazia dessa saudável concorrência um diferencial em cada noite festiva. Em meio a essa descontração ficava difícil escolher o pavilhão mais animado. Montava-se o parque infantil completamente interagindo com a festa. As “canoas de madeira”, o “trem fantasma”, “o Tira-Prosa” e a barraca da “Monga, a mulher que vira macaco” eram brinquedos esperados por todos aqueles que curtiam a chegada do evento. Hoje praticamente só existem brinquedos infláveis e mini roda gigante. Além das atrações principais existiam grupos de cultura popular em vários pontos da festa formando geralmente grandes círculos com a participação do público. A “enganação” dos ambulantes na “dança das tampinhas” e nas “mágicas de baralhos” era uma atração a parte. Não existiam espaços vazios. Tínhamos prazer em circular nas ruas e sentir o aroma do milho verde, da pipoca, da maçã do amor e do rolete de cana. Era uma festa lúdica, harmônica e grandiosa. Infelizmente isso mudou! Perdeu-se na essência e na história.
   Da mesma forma que acabaram a Festa do Rosário em Jaguaribe e a Festa das Hortênsias em Cruz das Armas, não tenho dúvidas que mais cedo ou mais tarde a Padroeira da Cidade ficará apenas na lembrança de alguns poucos que tiveram o privilégio de vivenciarem uma das mais tradicionais festas de rua da cidade.  É lamentável!
  
  

Cidade Peneira



   Atualmente está quase impossível trafegar pelas ruas de João Pessoa sem cair em um buraco qualquer. É a cidade peneira!  Até há pouco tempo, existia uma desculpa generalizada por parte da Prefeitura colocando sempre a culpa no Governo, no caso a Cagepa, que levava sempre a pancada no lombo como o verdadeiro responsável pelos buracos da capital. Hoje, porém, vivemos um único modelo de gestão e essa justificativa passou a não existir.
   Não venho aqui julgar a gestão municipal como o único responsável por essa triste realidade. Há de se convir que as recentes chuvas e o inverno rigoroso têm muito contribuído para deteriorar essas avenidas, mas o que vemos é praticamente todas as pistas de rolamento em estado deplorável e sem as mínimas condições de uso. O que mais impressiona é saber que até avenidas que foram recentemente asfaltadas estão precisando de um novo recapeamento e isso deixa no mínimo um questionamento a ser feito pela população. Será que o asfalto é de péssima qualidade ou não existe um estudo mais elaborado para a realização dessas obras? Será que tudo que se tem feito é apenas para iluminar os olhos da população e dizer que a prefeitura está trabalhando pela cidade? Onde está o erro? No planejamento? Na compactação do terreno? Na falta de estudos preliminares? No material empregado? Na competência das empreiteiras?
   É claro que toda e qualquer obra tem seu prazo de validade, mas estranha uma avenida que mal foi inaugurada estar passando por esse tipo de problema. Existe em João Pessoa várias ruas nessa situação. Seja no Bessa, na Cidade Verde, Mangabeira, Bancários, Roger, Valentina, no Geisel, Manaíra, Tambaú, no Varadouro, em todos os bairros e até nos principais corredores da capital já não se transita com tranquilidade.  Buracos e mais buracos transformam nossa rotina num verdadeiro inferno. Alguns deles estão perto de fazer aniversário. São pneus cortados, carros danificados, placas perdidas, visitas permanentes a oficinas e aborrecimentos quase que diários. Como se não bastasse o transito caótico e infernal, está praticamente impossível transitar na cidade por causa dessas crateras. O pior é que, com a chuva, geralmente esses buracos são cobertos pela água e passam despercebidos pelos motoristas desavisados provocando verdadeiros acidentes e prejuízos.  Um verdadeiro caos!
   Logo, logo as chuvas irão parar e até prevejo o que vai acontecer: uma verdadeira operação tapa-buracos será implantada, mas nada adiantará se não houver qualidade e garantia nos serviços, comprometendo, mais uma vez, a sua durabilidade. Como sugestão, que se realizem essas reformas no período noturno, assim como acontece nas grandes capitais. Seria a melhor forma de amenizar o constrangimento que todos nós passamos. É sempre bom lembrar que todo e qualquer cidadão merece o mínimo de respeito, afinal dinheiro público não é para ser jogado no ralo e nem tão pouco em eternos e infinitos buracos.

Lembrando a História


  Não queria mais falar sobre isso, mas não tem como deixar de esclarecer o que a maioria da população não sabe e nem tão pouco se interessa saber. Já escrevi livro sobre o assunto, pesquisei, gastei com documentos e jornais da época, viajei em busca de informações concretas, escutei atores remanescentes, aturei muitos equívocos, dei palestras, participei de debates em rádios e televisões, interagi com historiadores e conhecedores da causa, escutei os dois lados sem denegrir nem tão pouco julgar o certo ou o errado disso ou daquilo. Na minha pesquisa não tive em momento algum a intenção de denegrir imagens ou estimular discórdia. Muito pelo contrário! Tudo que escrevi, está lá, devidamente documentado para quem quiser tirar as suas próprias conclusões. A verdade é que já se passaram tantos anos que os próprios historiadores, mesmo os da nova geração, preferem se acomodar ou amordaçar a própria consciência sem nenhuma responsabilidade com os motivos que culminaram na revolução de 30 e a conseqüente mudança do nome da Capital e da bandeira do nosso Estado.  Até aí, tudo bem! Mas não posso admitir que o Sr. José Octávio de Arruda Melo, historiador das “antigas” e que tem vários livros publicados sobre o assunto, venha querer dizer em artigo publicado na revista ”A Semana”, (edição n.614 de 22 a 29 de Julho) que o meu livro seja “falso”. Isso não! Dizer que sou ligado aos perrepistas é outra justificativa inverídica. O  que o Sr. José Octávio não sabe é que a minha família por parte de pai foi defensora da “Aliança Liberal” enquanto a família da minha mãe ficou dividida entre “Liberais e Perrepistas”. Nesse caso, fico extremamente à vontade para falar no assunto.  Além disso, tudo que está escrito em meu livro, já foi citado em outros livros ou em artigos de jornais publicados pelos próprios protagonistas da época. É verdade que muitos destes livros foram queimados ou confiscados pela “divina providência política” ou por aqueles que foram contra a democracia. Mas está lá! É só procurar ter acesso ao que restou e ler!
   Quando estive vereador puxei o debate sobre o tema. Muita gente a princípio criticou e houve até ameaças grotescas e opiniões infundadas de que eu estava colocando um projeto na Câmara Municipal querendo mudar o nome da cidade. Isso nunca existiu, nunca aconteceu! É Tudo mentira! Até porque não é prerrogativa da Câmara a mudança do nome da Capital e sim da Assembléia Legislativa.  O que eu falei, e torno a falar, é que está previsto na Constituição Estadual de 1988 um plebiscito para consultar a população se ela quer ou não que mude o nome da Capital e conseqüentemente a bandeira do Estado. Isso é fato! Mais cedo ou mais tarde haverá de acontecer essa consulta popular e é por isso que acho que a história deve ser conhecida, tanto na versão contada pelos vitoriosos como na contada pelos perdedores, para que possamos pelo menos ter a liberdade de optar se é certa ou não essa mudança.
   O que sempre me incomodou nisso tudo, é o descaso em relação ao assunto pelos historiadores tendenciosos que só se preocupam em permanecer insistindo na teoria mentirosa e arcaica da história “oficial” e no endeusamento de João Pessoa. É fácil compreender. Muitos deles até hoje sobrevivem desse fato e admitir o contraditório seria uma espécie de suicídio de sua própria história.
   Nunca tive nada contra o cidadão João Pessoa. É isso que muita gente não entende, sejam familiares ou pessoas ligadas aos liberais da época.  Muito pelo contrário! Como gestor, João Pessoa poderia ter se revelado como um grande administrador pela vocação natural de engenheiro que tinha e feito uma excelente gestão. Acontece que o seu governo de apenas 1 ano e 9 meses foi marcado por conflitos e mergulhado numa guerra civil causada pelo seu próprio temperamento. Se não tivesse sido assassinado por João Dantas, jamais entraria para a História.  A morte de João Pessoa, no entanto, foi usada pela Aliança Liberal como a bandeira principal da revolução. Usaram João Pessoa literalmente, embalsamando seu corpo e passeando de capital em capital, culpando o governo federal pela sua morte e evocando ao mesmo tempo a revolução. E logo ele que detestava revolução e que dizia constantemente “preferir mil vezes a vitória de Júlio Prestes a melhor das revoluções”. Deve ter se estremecido dentro do caixão quando Assis Chateaubriand exibia o seu cadáver como um troféu em fervorosos discursos da Aliança Liberal. E que revolução? Se analisarmos minuciosamente os fatos veremos que nunca houve essa tal revolução. Revolução é quando efetivamente se muda a estrutura econômica e social de um País. E o que mudou em nosso país? A implantação do voto feminino e as Leis trabalhistas? Ora, isso já era uma reinvidicação da sociedade que mais cedo ou mais tarde iria acontecer.  A revolução de 30 não foi nada mais do que a destituição de Washington Luis e a subida ao poder de Getúlio Vargas, que, diga-se de passagem, implantou o regime ditatorial no Brasil. Nada mais do que um golpe de Estado e o começo da ditadura.
   Assim como a história de João Pessoa, o Brasil está cheio de controvérsias. Não sou eu agora que vai mudar isso. No entanto não posso deixar de dar a minha opinião sobre o assunto. Da mesma forma que acho um desrespeito se colocar uma feira de caprinos em meio às comemorações pela morte de João Pessoa, acho também que foi um desrespeito particularizar a nossa história em um momento que se misturou comoção com imposição, trazendo prejuízos para a nossa identidade e auto-estima. Quase ninguém sabe quem foi João Pessoa. Pergunte! Quase ninguém sabe o significado da nossa bandeira. Pergunte! Quase ninguém sabe o significado do NEGO. Pergunte!Faça a sua própria pesquisa e tire as suas conclusões. Se hoje praticamente ninguém conhece a nossa história, imagine daqui a 100, 200 ou 300 anos.  Além disso, uma história de sangue e de luto jamais deveria ser motivo de orgulho. É o que penso!