quarta-feira, 20 de julho de 2011

A pedra e a vidraça



 É fácil ser pedra, o difícil é ser vidraça! Quem nunca na vida ouviu esse argumento ou desculpa para justificar algum ato ou demonstrar insatisfação por um motivo qualquer? Às vezes, pedras são jogadas para pressionar aquilo que se quer com justificativas relevantes. Outras vezes, são pedras mal intencionadas e oportunistas visando perturbar a ordem ou tirar proveito em causa própria. Isso me faz lembrar um fato acontecido, aqui mesmo, na década passada, mas não tão distante.
   Em Julho de 2002, quando a prefeitura aumentou as passagens dos transportes coletivos em R$ 0,10 (dez centavos), houve uma reação imediata de todos os usuários de coletivos, principalmente dos estudantes. Mesmo sendo um aumento relativamente pequeno, as pessoas que usam o ônibus como meio de transporte, sentiram no bolso o peso da injustiça e foram pedir uma audiência com o prefeito da época. Até aí, tudo bem! Faz parte da democracia reivindicar aquilo que lhe é de direito e as pessoas tem mais é que lutar por aquilo que acreditam.
   O que o Prefeito em exercício Haroldo Lucena não sabia, era que uma grande manifestação tinha sido arregimentada pelo então “grevista” Ricardo Coutinho, na época Deputado Estadual que, com oportunismo ou sabedoria política, se colocou à frente do movimento incentivando os estudantes a invadirem o prédio da Prefeitura provocando euforia com fortes riscos de quebrar o patrimônio público. “Quebra, quebra!”. Era esse o grito de ordem! Houve reações e por pouco não aconteceu uma grande desordem. O carro de Dr. Haroldo ainda chegou a ficar encurralado pelos estudantes enfurecidos, encabeçados pelo então defensor daquela causa. As coisas mudam!
   Naquela época não existia pessoa mais “pedra” do que o governador atual. Não podia acontecer qualquer movimento que logo ele aparecia para dar a sua pedrada. Foi assim com o aumento das passagens, a greve da polícia, greve dos servidores públicos, ambulantes e tantos outros. Quase toda categoria foi defendida por ele com garra e determinação. A voz é do povo, quem manda é o povo e a razão será sempre do povo! E tome pedrada! Era assim que se comportava e, aos poucos, construiu a sua história.
   Não venho aqui atirar pedras nem tão pouco ser vidraça de franco atirador. Estou apenas refrescando a memória das categorias que foram defendidas pelo parlamentar na época e hoje se sentem traídas pela falta de atenção, diálogo e compromisso. Em outras palavras, a vidraça não aceita pedras!
   O mundo da voltas e, mesmo que essa volta tenha como resultado a conquista do poder pelo poder, é sempre bom lembrar e ficar atento às ações e reações advindas de qualquer que seja o cidadão. Se como vidraça seu pensamento mudou, melhor seria ter sido mais cauteloso ao atirar pedras, até porque seu objetivo era alcançar a vidraça e a pedra de hoje pode ser a vidraça de amanhã, como foi no seu caso. Eis a grande contradição!
  

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O ALIMENTO DA ALMA


  Não há coisa melhor do que estar em paz consigo mesmo. Embora o mundo esteja fervilhando ao seu redor numa mistura de violência, injustiças e contradições, o bom da vida é saber que você pode andar de cabeça erguida sem ter que se recriminar de alguma coisa errada que por ventura fez. Ninguém é santo para dizer que nunca escorregou numa curva mal atrapalhada, mas quando se tem a consciência tranqüila e renovada, a alma compartilha com a leveza do espírito e fatalmente evolui para um plano mais coerente e confortável. É o plano superior, aquele que alimenta a alma.
   A vida é um eterno aprendizado e cheia de surpresas. Algumas boas outras desagradáveis, mas nada disso interfere no que verdadeiramente representa seu caráter e a sua essência. Saber distinguir a verdadeira razão de viver é reconhecer a dádiva da sua própria existência.
  Há varias maneiras de se alimentar a alma. É um exercício constante que se deve fazer no seu dia-a-dia sem com isso fugir dos problemas de seu cotidiano. Observar a natureza e agradecer por se estar vivo e aberto ao mundo presente é uma delas. Respeitar ao próximo independente de sua classe social é outra. Abrir o coração para se ouvir um amigo que passa por um tipo de necessidade, compartilhar com uma dor, ajudar com uma palavra ou um simples gesto só faz engrandecer sua alma e sua existência. Uma boa música, cuidar do seu jardim interior, entrar em sintonia com a vida e conversar com o espírito todos os dias, são formas de se interligar com o universo e entender mais um pouco a missão que nos foi dada. Agradecer sempre!
   Às vezes costumo dizer que a humanidade não deu certo. O mundo não é mal, mas os humanos estão sempre procurando formas de sobrevivência imediatas sem a mínima preocupação em salvar o planeta que ele próprio habita. Nesse aspecto tornam-se maus e incoerentes.  A conseqüência disso, não tenho dúvidas, será sentida pelas próximas gerações. Talvez nossos filhos, netos e bisnetos não tenham a mesma sorte de terem uma qualidade de vida merecidamente compensadora, mas de qualquer forma sobrevivem a essa evolução.
   Embora tenhamos que nos submeter ao acelerado e constante progresso da tecnologia e das mutações permanentes que o planeta vive, é necessário olhar para si mesmo, respeitar o próximo e conviver em paz com nosso habitat. Entender a razão de nossa existência é fundamental para compreender melhor o mundo.Alimentar-se de bons pensamentos, amar, perdoar, dividir, ser verdadeiro, se solidarizar, ter uma vida digna e honesta é imprescindível para o crescimento espiritual e encontrar a luz. E é na Luz que se encontra a felicidade. O alimento da alma é conquistar essa luz, que mesmo quando refletida no pântano ou na lama, é límpida, transparente e nunca se suja.

domingo, 10 de julho de 2011

A CULTURA NA FOGUEIRA

  

   Um bom começo, mas sem estratégia de ação! É assim que a maioria das pessoas está definindo a recente ação do gestor e artista Chico Cesar em relação ao projeto “Fogueiras da Cultura” realizado recentemente em 10 cidades do interior paraibano. Embora seja uma idéia plausível, não posso deixar de pontuar algumas dessas considerações.
     As caravanas culturais sempre foram e será uma forma de levar o artista onde o povo está e é um modelo que deve ser reproduzido, disso não tenho dúvidas! Quem não se lembra dos circuitos universitários e das caravanas promovidas por várias instituições nos anos 70 e 80? Se a idéia é boa, no entanto, é necessário sedimentar o evento como forma de gerar credibilidade e respeito, tanto ao artista como a platéia, objetivando conseqüentemente a sua finalidade. O que adianta ter um caminhão palco, um bom som e iluminação, cachês para três maravilhosos artistas e tudo isso ser visto por uma platéia restrita formada por pouquíssimas pessoas? O que faltou? Planejamento? Divulgação?
   Existe atualmente uma ansiedade em querer mostrar serviço em relação à cultura e esquecendo-se de fortalecer os movimentos já existentes. Esse ano, por exemplo, jamais deveria deixar de ser feito um investimento em manifestações consolidadas como o Folia de Rua e o Carnaval Tradição. Da mesma forma o Governo não poderia deixar de apoiar o São João de Campina Grande e outras festas juninas pontuais, como é o caso de Bananeiras, Patos, Cajazeiras, Santa Luzia, entre outras. As quadrilhas estão minguando. Eventos que engloba a cultura popular, o artesanato e o folclore estão passando quase despercebidos. Não vejo razão para não acontecer o Fenart assim como não cabe vincular o Circuito do Frio ao Festival de Artes de Areia como uma imposição.
   A cultura é ampla e diversificada. Seja aqui ou em Cajazeiras, cada cidade ou região tem sua peculiaridade cultural. Uns se destacam pela sua gastronomia. Outros pelo seu artesanato. A música, o teatro, a cultura popular, a literatura de cordel, entre outras, está presente em quase todas as regiões. Ainda temos o potencial arqueológico e histórico para explorar. Tudo isso é cultura!  Da mesma forma que a fabricação de um “rolete de cana” ou a maneira de se amarrar uma “corda de caranguejo” é um dado cultural, não se pode fugir das tradições presentes em cada realidade. Promover a cidadania não é apenas fabricar eventos e sim provocar o desenvolvimento econômico sociocultural sustentável em cada uma dessas regiões. Ora, o público geralmente escolhe o que se quer ver, ouvir ou comprar. Não adianta querer impor um evento sem antes estruturar e preparar a população para sua assimilação. A não ser que se aproveite o público de um evento qualquer e o insira como nova proposta. Tem que existir cumplicidade entre o governo e os gestores culturais de cada cidade, tanto no planejamento quanto na divulgação, caso contrário é jogar dinheiro público no ralo. Querer mudar o conceito de uma hora para outra é navegar a deriva com forte perigo de naufrágio ou colocar literalmente a cultura na fogueira!
   Enquanto o Congresso Nacional não vota o Sistema Nacional de Cultura, melhor seria fortalecer o FIC (Fundo de Incentivo a Cultura) e abrir os editais tão esperados pela classe cultural dando oportunidade aqueles que procuram organização na busca constante do mercado de trabalho. Pelo que eu sei, até o Conselho Estadual de Cultura está desativado quando já deveria estar havendo propostas para a sua reformulação. De qualquer forma, fica a sugestão!